26 julho 2009

Eu sou uma mulher

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.

Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.

Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho d'água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.

Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.

O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.

O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.

(Marina Colasanti)

Um comentário:

  1. Aninha Clarinha, vai ver que vem daí, da força de se entregar aos mistérios da lua, que estamos nos aproximando em nossos mistérios... Amo menstruar, assim como você, a Marina Colassanti e todas as mulheres que assumem e se encantam com seus próprios segredos. Sigamos Sigana, trocando e compartilhando nossas máscaras, banhadas no sangue que corre pelas coxas e anuncia o retorno ao mesmo de nós. E que alegria podermos nos saber integrantes deste eterno ciclo de magias e mistérios! Um grande beijo repleto de códigos indecifráveis, porém interpretáveis ao infinito...
    Obs.: Num esquenta a cabeça com as viagens porque to embriagada, para além de ti e da própria Marina (a Berthet e a Colassanti), de Nietzsche e, mais recentemente e superficialmente, de Derrida...

    ResponderExcluir