27 julho 2009

Coisas de menina

Não tive infância. Ao menos não essa das que falam os futuros-já-feitos-gênios, de lembranças claríssimas, viagens e epifanias de espaço sideral. Minha vista é curta, só alcança as brincadeiras de escada com minha companheira morango cacheada e a cama mundo de minha mãe.

Hoje, se ainda estivesse lá em casa, talvez meus pés ficassem de fora, mas, lá, eram apenas o disfarce do grande tamanho de meu pai; da altura, do pé, da mão – tudo o que compõe o baú que não escolhi carregar.

Cresci, ainda que já tenha nascido grande, ao lado de dois irmãos sete e seis anos mais velhos. Agora me lembro também da ida para a escola de mãos dadas com os dois da mesma forma pequenos-grandes, e de banhos com aquela aguinha roxa pra sarar a catapora.

Sempre gostei de água, conta minha mãe sobre o pedido diário para lavar o cabelo.

Sou grande – ainda ou agora sim de verdade –, posso lavar o cabelo quando quero, e até levar o pão quando posso.

A casa, o quarto, a cama, eles sim diminuíram, mas ainda carregam monstros e assombros assustadores. Por isso choro. Assim, corro nas águas do meu tempo...

Um comentário:

  1. Nossa, Ana, que lindo! de uma poesia imensa!
    descobri seu blog, já era!
    bjs!
    Kate

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