Não tive infância. Ao menos não essa das que falam os futuros-já-feitos-gênios, de lembranças claríssimas, viagens e epifanias de espaço sideral. Minha vista é curta, só alcança as brincadeiras de escada com minha companheira morango cacheada e a cama mundo de minha mãe.
Hoje, se ainda estivesse lá em casa, talvez meus pés ficassem de fora, mas, lá, eram apenas o disfarce do grande tamanho de meu pai; da altura, do pé, da mão – tudo o que compõe o baú que não escolhi carregar.
Cresci, ainda que já tenha nascido grande, ao lado de dois irmãos sete e seis anos mais velhos. Agora me lembro também da ida para a escola de mãos dadas com os dois da mesma forma pequenos-grandes, e de banhos com aquela aguinha roxa pra sarar a catapora.
Sempre gostei de água, conta minha mãe sobre o pedido diário para lavar o cabelo.
Sou grande – ainda ou agora sim de verdade –, posso lavar o cabelo quando quero, e até levar o pão quando posso.
A casa, o quarto, a cama, eles sim diminuíram, mas ainda carregam monstros e assombros assustadores. Por isso choro. Assim, corro nas águas do meu tempo...
Nossa, Ana, que lindo! de uma poesia imensa!
ResponderExcluirdescobri seu blog, já era!
bjs!
Kate